sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Conversas de ponto de ônibus.

— Boas tardes.
— Boas, boas. 
— O ônibus que vai para a rodoviária já passou? — disse o homem, abancando-se e largando uma sacola que parecia pesada.
— Não. Deve chegar em breve, creio. 
— Com esse calor, não duvido que o motorista tenha desmaiado.
— Verdade. Que tempo louco.
— É. 
(Silêncio)
— A senhorita já foi na nova loja de eletrodomésticos, aquela, da esquina? — disse o homem, enquanto enxugava a testa suada com as costas da mão direita.

— Não, não. Por quê?
— Os preços são exorbitantes, nem perca seu tempo. Se bem que, uma mocinha da sua idade, não deve dar muita importância para eletrodomésticos. Estou certo?
— Não por isso.
— Veja, veja. — e abriu a sacola que estava no chão, mostrando-me algo que parecia um condicionador de ar — Sabe quanto paguei? Sabe?
— Não. Mas, pela sua expressão, não deve ter sido nada barato.
— 23 vezes de 47. Quanto dá isso?
— Não sei. Nunca fui boa em matemática.
— Em que série tu tá, menina?
— Segundo ano do ensino médio.
— E como chegou até aí? Eu tenho só até a quinta série, sabe. Mas, no meu tempo, o estudo era melhor.
— O estudo de hoje em dia está fraco, senhor. Não se admire. 
— Como eu disse, senhorita. Antes era tudo melhor. Acho que bons alunos só aprendem com reguadas na mão.
— É.
(Silêncio)
— Mas, sabe. Minha filha está na mesma escola que você.
— Hm. E ela está gostando?
— Acho que sim. As notas dela não estão tão boas.
— No começo é difícil.
— É..
— Mas, veja. O ônibus chegou. Boa sorte com o condicionador de ar.
— Obrigado, obrigado. E avanços na matemática.
— Deus lhe ouça, senhor. 
E então os dois nunca mais se veem. 


Gosto de efemeridades. Não sou do tipo que se apega à coisas, então, quanto mais efêmero algo for, mais me atrai. Efêmero é uma palavrinha bonita, dá uma sensação boa. Conheci-a lendo O Pequeno Príncipe, e ela me faz pensar. Nossa vida é algo tão, mas tão efêmero.. E, mesmo sabendo disso, teimamos em não aceitar. 
Essas conversas efêmeras são importantes. Acho engraçado como duas pessoas compartilham suas vidas, sabendo que a chance de se encontrarem novamente são quase inexistentes. Chega a ser triste. Sempre acontece comigo.

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